– Oi mamãe!
– Oi filho.
– Oi papai!
– Oi filho…. Opa! Que você fez no cabelo?
– Escureci, só.
– E esse penteado? Filho, você não virou um…
– Um o quê, papai?
– Você não anda ouvindo good charlotte, ene xis zero, evanescence, não é?
– Sim papai, não dá pra negar.
– Meu Pai do céu! Por quê?
– Esse mundo opressivo, esse capitalismo, tanta violência gratuita, o desamor crescente… Sim papai, sou emo!
– Nããããõooooo!! Meu Deus! Onde foi que eu errei?
– Joana, você ouviu isso!!??
– Calma Ademar! Pelo menos ele não usa droga, não rouba. – Disse Joana enquanto fazia o jantar.
– Meu filho! Pelo amor de Deus! Por que você está fazendo isso comigo?
– Pai, ser emo não é crime!
– Que vergonha… E se meus amigos descobrirem? Seu tio Adélio, o que ele vai pensar?
– Pai! O tio Adélio tem um filho gay que no caso é meu primo Juninho!
– Gay tudo bem, mas emo!!! Por quê! Por quê!!
– Papai!!!
– Não me chame de pa pai!!! É só pai, seu emo filho da puta!
– Ademar!!!! O que você disse aí?
– Joana foi força de expressão, mas você bem que merece essa culpa mesmo! No mínimo foi por causa dessa sua mania de assistir novelas do Manoel Carlos! Ta feliz agora?
– Papai, a mamãe não tem nada a ver com isso! Já sou bem grandinho pra decidir por mim!
– Cala boca sua bicha desandada!
– Papai!
– Ademar!
– Eu não mereço isso! – Gritou Ademar com toda força que teve. Certamente os vizinhos assustaram-se. E de repente, tudo ficou escuro.
Ademar sonhava que era um fazendeiro típico do meio oeste americano. Com um garfo de feno arrumava o monte que seria embalado pela máquina. Via Joana ao longe, pela janela de sua casa estilo Cottage provavelmente fazendo uma torta de maçãs. Um riacho corria sonolento mais ao fundo fazendo o barulho de uma sala de estar de uma clínica. No horizonte uma menina vinha correndo saltitante como uma gazela, sem preocupações, com um cesto cheio de cogumelos. Sussurrava uma música meio melódica e vinha sorridente ao seu encontro com seus cabelos negros, extremamente lisos e caindo sobre os olhos. Quando chegou próximo percebeu que a menina era o seu filho…
– AAAaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!!
Este grito foi mais assustador do que o que teve antes de entrar em colapso e ter sido induzido ao coma. Seis dias depois Ademar acorda num quarto branco de uma clínica de repouso onde o doparam para que não morresse do coração.
– Joana! Joana! Joana!
– Calma seu Ademar, a dona Joana já está vindo.
Apressada e com cara de desespero, Joana entra no quarto.
– Ademar do céu! Homem de Deus, como se sente?
– Joana. Foi sonho?
– O que Ademar?
– Emo?
– Ademar! Quanta besteira por essa tolice! Repouse homem! Tem sorte de não ter morrido por causa desse seu gênio.
– Cadê ele?
– Depois que te socorreu te carregando no colo até o carro, entrou em depressão.
Ademar olhou para o nada. Parecia irreversível. Tinha que aprender a aceitar. O filho era mesmo emo. Agora só tinha que encontrar uma maneira de convencer o Adélio de que ter filho emo é melhor ou no mínimo a mesma coisa de que ter um filho gay.

EMO
0 comentários:
Postar um comentário